quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

PALHA DE ARROZ

Fontes Ibiapina, 5ª edição, editora Oficina da Palavra, Teresina (PI), 2002.
                                      1ª edição 1968.


A história contida no romance Palha de Arroz retrata a realidade do povo teresinense na década de 40. Para tanto, Fontes Ibiapina narra fatos da história de alguns personagens tendo como foco o cotidiano de pessoas pobres em bairros miseráveis da capital do Piauí, sendo estes: Pau de Fumo, o negro Parente e Maria Preá. Estes eram grandes amigos que se ajudavam nas dificuldades.

Na vida de Pau de Fumo vemos a estória de sua esposa Genoveva, a filha Zefinha e os dois filhos, sua segunda esposa Ceição, a lembrança dos professores do colégio Liceu, no qual estudara o ensino fundamenal, os soldados, os delegados, os amigos da favela. O negro Parente tem o seu filho Antonino, sua irmã prostituta Piribido, os muitos defuntos que pescava no rio Parnaíba, o pistoleiro que o insentivara a ingressar na profissão, o Farias, o bom samaritano que o livrara da morte ao pagar suas despesas hospitalares e Maria Preá tinha os seus clientes e as outras prostitutas, amigas de profissão.

O autor nos situa, de forma impressionante, com riqueza de detalhes, na inserção dos acontecimentos ocorridos nos bairros pobres de Teresina, especialmente, Palha de Arroz e Barrinha. Fala da realidade das mulheres e homens vivendo na miséria financeira, educacional, tendo as mulheres que se entregarem a prostituição e os homens a matar ou roubar na tentativa de sobreviver.

Ressalta o descaso das autoridades constituídas que não investiam na infra-estrutura desses bairros, pois neles não tinham saneamento básico, água, luz. E na noite escura muitos eram os incendios ocorridos nos casebres ceifando vidas, destruindo lares. Incendios estes criminosos que antes de acontecer apareciam bilhetes anonimos amedrontando os moradores para que deixassem os casebres.

Circulava um boato pelos bairros que era a própria polícia que ateava fogo nos casebres. Quando o Major Laurentino, passa a ser o comandante do 25º BC, ele passa a dar assistencia também com relação ao problema dos incendios e neste período o bairro do Mafuá que era o mais prejudicado, com a intervenção do exército passa a não sofrer tão severamente com os incendios como diz na narrativa “ pois não é que desde então nunca mais houve incêncio no Mafuá! Nos demais bairros, porém, o pau cantou que não foi brincadeira.”

A narrativa nos remete ao fato de que nos incendios muitos óbitos ocorriam e entre eles o da filha de Pau de Fumo, a pequena Zefinha. Com a morte de Zefinha, Genoveva, esposa de Pau de Fumo, fica louca a vagar pelas ruas da favela e depois de alguns anos suicida-se.

O autor nos faz perceber que não aguentando mais viver neste contexto de pobreza extrema os personagens principais procuram mudar de vida.
 
Pau de Fumo deixa a vida de latrocínio para ser um carregador com o número 208, sente-se tão feliz que, desde então, diz que Pau de Fumo morreu e em seu lugar renascera Chico da Benta, nome pelo qual fora batizado e depois do primeiro assalto perdera-o, pois o delegado que o prendeu o chamou de pau de fumo  a partir de então passou a ser seu nome. Contudo queria mudar para sua atitude e então conseguiu melhorar a sua vida familiar. Pensou que  com o emprego seus problemas haviam terminados, mas o trabalho de carregador foi minguando e em um momento de muita necessidade, faltava-lhe o pão para si, para os filhos, para Ceição e Genoveva que ele tinha de sustentar, volta a roubar.

É preso, cumpre a sua sentença, mas no momento que seria solto para voltar a cuidar da sua família o delegado o informa que será escoltado até Timom, pois se o encontrar em Teresina, a polícia o matará. No momento da escolta sobre a ponte do rio Parnaíba, Pau de Fumo joga-se sobre o rio afogando-se. Para ele melhor a morte a ter que deixar o seu lar.

Parente deixa a profissão de resgatar defuntos do Rio Paranaíba e passa a ser matador, mas faz um juramento que mataria apenas quem já fosse criminoso, chega a matar quatro cabras, contudo escaceia os contratos e ele chega a bater em raparigas por mandado das mulheres enciumadas.

Depois de comenter um roubo, ser pego e ao ser solto decide deixar o Piauí a procura de melhores condições de vida. Vai para o Mato Grosso em busca de ouro, não conseguindo melhorar de vida parte para o Rio Grande do Sul onde consegue emprego e passa a viver melhor. Como prometera, sempre tem em mente, enviar dinheiro para que Pau de Fumo e Antonino,seu filho, se mudem para o Rio Grande como ele fizera.

Maria Preá vai para a Bahia com um caminhonheiro, sua pretensão era ser uma senhora respeitável casando-se, quem sabe, até mesmo com o caminhonheiro que a levara, mas isso não acontece, pois o negro Parente a encontra em um cabaré do Rio Grande do Sul, cheia de jóias, vestimentas bonitas, passando-se por uma paraguaia viajada.

Assim o livro do grande escritor picoense, Fontes Ibiapina, usando com maestria a dualidade ficção e realidade, deixa para o leitor um conhecimento sobre a capital piauiense na década de quarenta, mostra a miséria existente nos bairros citados, o descaso governamental, os incendios criminosos que de fato aconteceram e perduraram por algum tempo, a vida degradante nos prostibulos.  

Além deste retrato social apresentado, enriquece a obra mostrando as duas faces do personagem Chico da Benta/Pau de Ferro. O Chico da Benta estudou em um dos melhores colégios de Teresina e o conhecimento adquirido deixa-o em uma situação de conhecedor da realidade, os interesses obscuros, a opressão da ditadura. Bem entendia da filosofia, política, matemática, artes. Lera Comte, Vitor Hugo, Platão, Aristóteles, Darwin, Haekel, Eça de Queirós. Compreendia tudo o quanto lhe era imposto pela sua condição social de pobreza e este conhecimento adquirido, como mostra o escritor, era motivo de sofrimento, pois mesmo tendo o conhecimento não conseguia mudar a realidade que o massacrava.

Voltemo-nos um pouco para o escritor, Fontes Ibiapina, que demonstra ter um grande conhecimento científico, político, filosófico e cultural ao emprestar a sua sabedoria para a fala de Pau de Fumo/Chico da Benta. O livro também é permeado de ditos populares que ele usa de uma forma bem apropriada ficando bem elaborada as construções frasais.

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